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Meira faz acordo na Justiça, paga multa e desmente acusação de que delegada Carla Patrícia ‘protegia PSB’ na chefia da PF em Pernambuco.

Falas do então presidente do PTB, Coronel Meira, em rádios e redes sociais, aconteceram em 2021, antes de se eleger deputado pela ala bolsonarista, já no PL.

O deputado federal Coronel Meira (PL) fez um acordo judicial com a delegada da Polícia Federal Carla Patrícia, atual secretária de Defesa Social do governo Raquel Lyra. Ele foi obrigado a pagar uma indenização e se retratar desmentindo as acusações que havia feito contra a policial, quando trabalhava na procuradoria da SDS, no governo Paulo Câmara, e posteriormente na superintendência da PF em Pernambuco.

A nota de retratação pública de Meira sobre Carla Patrícia:

“Por meio da presente nota de retratação, reconheço que não tenho conhecimento de qualquer ato ilícito ou tendencioso praticado a qualquer tempo pela Delegada CARLA PATRÍCIA CUNHA, tampouco qualquer vínculo político-partidário relacionado a ela. Reconheço que a sua gestão à frente da Superintendência da Polícia Federal e da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco foi íntegra e pautada pela legalidade, moralidade e imparcialidade, desconhecendo qualquer ato que desabone a Delegada Carla Patrícia.

Por tais fatos, peço escusas e me retrato de todas as afirmações por mim proferidas e repercutidas nos veículos de imprensa até a presente data”, foi o texto acordado.

A audiência aconteceu nesta quinta-feira, na Comarca da Justiça no Recife.

No mesmo ato, a Justiça obrigou o deputado bolsonarista a apagar as postagens que havia feito, em campanha contra a delegada, em sua campanha política contra o PSB em Pernambuco e o governo Paulo Câmara, em particular.

O advogado Ronnie Preuss Duarte, que defendeu Carla Patrícia na ação, havia pedido que a Justiça determinasse que Meira pagasse R$ 200.000,00 em danos morais e que ele fosse obrigado a publicar uma retratação nas suas contas em redes sociais.

Pelo acordo, o deputado federal efetuará o pagamento de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) ao HOSPITAL DO CÂNCER DE PERNAMBUCO, sendo a primeira parcela no dia 10/6/2023, e as demais na mesma data dos meses subsequentes.

“A maior prova de que Carla Patrícia não tinha qualquer viés político-partidário foi a nomeação dela para a SDS num governo ao qual o PSB faz oposição”, afirma o advogado.

Veja as condições adicionais, a serem cumpridas pelo deputado Meira no prazo de 10 dias:

Apagar as postagens existentes nas redes sociais do CORONEL MEIRA sobre os fatos retratados nos autos, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (um mil reais) por unidade, por dia;
Publicar a retratação nas redes sociais do CORONEL MEIRA (Instagram, Facebook, Linkedin e TikTok) e não apagar (permanente) sob pena de multa de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por postagem que venha a apagar;
Não repetir, direta ou indiretamente, as afirmações objeto do processo.

Meira disse que a ex-superintendente estaria “protegendo o PSB” no período em que ela chefiava a Polícia Federal
A ação foi revelada pelo blog de Jamildo, em setembro de 2021.

Na época em que a ex-superintendente da Polícia Federal (PF) em Pernambuco entrou na Justiça Estadual com uma ação contra Coronel Meira, ele era presidente do PTB no estado.

A ação ocorreu após, em sucessivas entrevistas, Meira insinuar que Carla Patrícia estaria “protegendo o PSB” enquanto chefiava a PF em Pernambuco.

As declarações do coronel, que insinuavam possível prática de prevaricação – quando um agente público deixa de agir diante de um mal feito, foram dadas em entrevistas a emissoras locais de rádio e canais nas redes sociais.

A defesa da ex-superintendente solicitava que fosse excluídos das redes sociais de Meira os ataques à condução da delegada no período em que esteve à frente da PF local.

Quem é Carla Patrícia?
Delegada da PF há 17 anos, Carla Patrícia chefiou a Polícia Federal em Pernambuco entre dezembro de 2019 e maio de 2021, sendo a primeira mulher superintendente da corporação no estado. A indicação dos superintendentes é prerrogativa do diretor-geral da PF.

Carla deixou o cargo em maio daquele ano após troca determinada pelo então novo diretor da PF, Paulo Maiurino. Nos bastidores, delegados avaliaram sob reserva à época que a troca foi natural, sem intenções políticas por parte do novo diretor.

O que Meira havia jogado nas redes sociais contra a delegada?
No domingo 16 de agosto de 2021, coronel Meira esteve ao lado do cantor Sergio Reis e outros aliados do bolsonarismo, em uma live, falando dos atos programados para o feriado da Independência, no qual Bolsonaro esculachou o STF e seus ministros. No vídeo, o presidente do PTB local, amigo do ex-deputado federal Roberto Jefferson, voltou a criticar a funcionária pública.

No vídeo, o coronel conta que estava sendo chamado para depor na PF no Recife, “como persidente do PTB”. Ele mantém contato frequente com Jefferson e articulou grupo de advogados para tentar tirar o presidente nacional do partido da cadeia.

“É só política… não sei se é coisa do Alexandre de Moraes ou se é coisa antiga. Eu fui de encontro a ela (Carla Patricia), pedi ao presidente que mudasse, ela estava sentada encima das operações. Ninguém é preso em Pernambuco. Paulo Câmara, governador ladrão, Geraldo Júlio, genocida, com respirdores de suinos…”

No mesmo video, Meira ataca Moraes. “Me prenda”, pede. “Ele é mancomuncado ao PCC (lá em São Paulo). Meus amigos da PM me contam que há um acordo com o governador calça apertada, a Rota está proibida de fazer operações, os presídios estão em paz. Por isto, o PCC está tranquilo. A OAB não se posiciona, é a ditadura da toga. Tem que ir para cima”

Em 20 de agosto de 21, fontes da área de segurança informaram ao blog que o coronel Meira, o então presidente do PTB em Pernambuco, foi indiciado na Polícia Federal por suposto crime contra a honra da delegada.

“Depois de ter sido acusada publicamente de prevaricação, a delegada representou contra o coronel e um inquérito foi aberto. Tratou-se de um ato de ofício”, revelou a fonte.

Procurada, a assessoria do PTB no Estado não respondeu. A PF também não comentou na época.

Fonte: Jornal do Comércio