O Estado de S.Paulo
O governo federal prepara uma “forte campanha de mídia” para convencer o contribuinte de que a realização da Copa do Mundo é boa para o País. Nas palavras do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, há a necessidade de fazer um esforço de propaganda para servir de contraponto ao noticiário negativo. “A imprensa mente para caramba”, declarou Carvalho, na característica linguagem autoritária do governo petista, para o qual qualquer crítica equivale a uma tentativa de golpe.
Segundo disse o ministro em encontro com militantes de movimentos sociais, o governo se equivocou ao permitir que se criasse “uma visão parcial e distorcida” a respeito dos gastos com estádios e dos atrasos de obras. Na opinião dos governistas, portanto, os inúmeros problemas relativos à Copa não existem – trata-se de manipulação da imprensa.
“Nós nos demos conta de que cometemos um erro ao não fazer um investimento para valer na comunicação e deixamos de informar aos cidadãos o que a Copa significa”, afirmou Carvalho, segundo o jornal O Globo.
Não é a primeira vez que o ministro sugere que os brasileiros que protestam contra os gastos relativos à Copa não entenderam os esforços do governo para lhes proporcionar uma vida melhor. Em janeiro passado, Carvalho queixou-se dos manifestantes que foram às ruas em junho de 2013, dizendo que o governo tomou um “susto”. “Houve uma certa dor, uma incompreensão, e quase um sentimento de ingratidão. Foi como dizer: fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós”, lamentou o ministro, dando a exata dimensão da arrogância lulopetista.
A estratégia de desqualificar os críticos vai muito além dos meros ataques à imprensa. O objetivo é dividir o País entre “nós” e “eles”. O ministro do Turismo, Vinicius Lages, por exemplo, disse ao jornal Valor que é preciso aceitar que o futebol “não é mais uma unanimidade” no Brasil. Segundo essa versão, os que protestam contra os gastos da Copa são aqueles que simplesmente não gostam de futebol.
Mas estes são uma minoria. A “maioria”, disse Lages, “entende que a Copa é uma oportunidade sem igual, que nos projetará, e muito”. Na mesma linha foi o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo. Ao comentar pesquisas que mostram notável queda do apoio popular à realização da Copa, Rebelo disse que esse tipo de levantamento integra uma “campanha contra a Copa”.
Esse cenário explica a ofensiva midiática que Carvalho anunciou. Será preciso convencer cada vez mais pessoas de que as obras superfaturadas, os atrasos vexatórios e a irrelevância da Copa para a economia nacional são mera ilusão criada pelos inimigos do governo petista – e, por extensão, dos brasileiros. Um dos motes da campanha será dizer que a Copa está gerando milhões de empregos – a estimativa oficial brandida pela tropa governista é de extravagantes 3,6 milhões de vagas – e que trará grandes ganhos econômicos. Uma simples olhada nos prejuízos que a África do Sul teve com a Copa deveria servir para alertar sobre essa fantasia.
Segundo a propaganda do governo, no entanto, apontar esses problemas é jogar contra o Brasil. “Vamos ser críticos da Copa, sim, vamos dar pau, mas não vamos nos somar aos que querem que a Copa não dê certo, que o povo brasileiro não tenha uma vitória”, disse Carvalho. “Deformaram as informações com um propósito claro de criar um problema, para que nosso projeto não vá em frente.”
Das informações “deformadas” às quais o ministro se refere, as principais dizem respeito ao volume de dinheiro público usado na construção de estádios, em vez de ter sido destinado a áreas muito carentes, como saúde e educação.
A Copa brasileira será a mais cara de todos os tempos: as arenas deverão custar em torno de R$ 8,9 bilhões, mais do que a soma do que gastaram África do Sul e Alemanha quando sediaram o torneio. Só isso já seria motivo suficiente para fazer os brasileiros saírem às ruas para protestar. E, ao contrário do que pensam as autoridades petistas, a maioria desses brasileiros continua a gostar muito de futebol. Eles só não gostam de ser tapeados.
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