Muito prazer, meu nome é Pobreza! – disse a voz.. Por: Valacir Marques Gonçalves
Decidi assistir ao show de um artista famoso. Olhei o preço do ingresso – uma exorbitância pra mim. Tentei jantar num restaurante razoável – comida de “rico”. Fui ao Shopping decidido a comprar um livro – descobri que o livro custa bem mais do que posso gastar. Não se trata de coitadismo, muito menos pertenço ao clube dos sovinas, mas foi inevitável. Depois de tanto tempo sem um reajuste salarial, dei-me conta do óbvio: a pobreza bateu à nossa porta! Não podemos gastar em nada que não seja necessidade básica, que não seja para manter os compromissos em dia.
É duro lembrar que houve um tempo em que ocupávamos lugar de destaque na hierarquia salarial do funcionalismo, que o nosso contracheque era olhado com respeito – até por nós… Revistas diziam que ser policial federal era sonho de consumo dos “concurseiros” do país. Ganhávamos mais do que os invejosos de sempre. Sem demora, eles foram atrás de aumentos salariais, alegando isonomias, hierarquias, proximidade do poder, e sei mais lá o que… Foram atendidos, diferente de nós; eles desfrutam, hoje, o que um salário digno proporciona.
Olhando o que aconteceu conosco, cheguei à conclusão de que merecemos a companhia da pobreza, era previsível, ela bateria à nossa porta… É a consequência lógica da queda de prestígio e de importância da Instituição. É o rescaldo das operações espetaculares e midiáticas, chefiadas por quem não escreveu a nossa história, não ajudou a construí-la… As tais operações foram reduzidas a pó, levando com elas a admiração que a Polícia Federal construiu ao longo de décadas. Uma admiração construída com o esforço de gente que fazia da investigação matéria-prima de um trabalho alicerçado em provas irrefutáveis.
Li a entrevista do diretor-geral no maior jornal do país, na qual ele declara que “grampo só em último caso”. Ele defende “um novo padrão de investigações, buscando abrir mão de técnicas evasivas como as escutas telefônicas”. Certamente o diretor sabe o que fala, a Folha de São Paulo enfatiza que ele chefiava a Superintendência da PF naquele estado em 2008 e 2009, quando foram deflagradas as operações Satiagraha e Castelo de Areia. A Satiagraha sobre crimes financeiros atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas; a Castelo de Areia sobre suspeitas de fraude a licitações e corrupção envolvendo executivos de construtoras e políticos, ambas anuladas na Justiça, confirma o Jornal.
A tal “Operação Satiagraha” teve parte das provas da investigação anuladas em virtude da participação da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), consideradas irregulares com os indiciados libertados pelo Supremo. Por ironia do destino, ela teve a participação de “investigadores” que usurparam as nossas atribuições e depois foram prestigiados com carreira organizada e salários bem maiores do que os dos usurpados… O quadro que emerge desse episódio é pouco edificante: o uso irregular dos tais “investigadores” não foi percebido por quem os requisitou em detrimento da polícia que faz parte – uma lógica perversa que até hoje ele não explicou, talvez por falta de tempo devido ao mandato político que conseguiu como apêndice do Deputado Federal e palhaço licenciado Tiririca.
Só nos resta dizer: – Muito prazer, Dona Pobreza! Fique à vontade em nossa casa, ela está repleta de gente desiludida, esperando uma melhora que nunca chega… Uma nova diretoria da Federação foi eleita. Não sou preconceituoso, mas está na hora deles mandarem a pobreza embora. A Diretoria que saiu, privou, em vários momentos, com o presidente Lula e o ministro Tarso Genro, fato que não evitou a penúria atual. Espero que os novos dirigentes tenham mais sorte. Peço perdão por lembrar o salário de outrora, certamente é a nostalgia atacando… Digo isso porque o mestre Eduardo Galeano ensinou que “nos refugiamos na nostalgia quando sentimos que nos abandona a esperança, porque a esperança exige audácia e a nostalgia não exige nada…”.
Eu ainda tenho esperança! Peço aos novos dirigentes que juntem a ela a audácia. Amém!
PS: O cachorro come osso porque sabe a garganta que tem! (Autor: Sei lá…)
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