Responsável pela investigação sobre desvios no Ministério da Educação (MEC) imputou crimes à PF
Indiciada por crimes que, juntos, podem somar mais de 15 anos de prisão, a cúpula da Polícia Federal vê brechas no despacho do delegado Bruno Calandrini para adiar os depoimentos previstos para esta quarta-feira (28) sobre o caso do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
Na semana passada, Calandrini, responsável pela investigação sobre desvios no Ministério da Educação (MEC), imputou ao comando da PF os crimes de formação de quadrilha, cárcere privado, prevaricação, desobediência e obstrução de investigação de organização criminosa. De acordo com o delegado, a cúpula da corporação teria interferido na investigação que tem Ribeiro como alvo.
Segundo relatos feitos à CNN, no entanto, a cúpula da corporação só teve acesso à íntegra da decisão nesta terça (27) —o que abriu espaço para que haja um questionamento na Justiça sobre a realização dos depoimentos. Um dos crimes imputados à direção da PF está previsto na lei que dispõe sobre organizações criminosas. Ela determina, entretanto, que os investigados, quando intimados a prestar esclarecimentos, precisam ter acesso ao processo com o prazo mínimo de três dias.
Integrantes da cúpula da PF que estão na mira de Calandrini disseram à CNN, em caráter reservado, que a ofensiva do delegado pode acabar enquadrá-lo em um processo de abuso de autoridade.
Na semana passada, o chefe da Coordenadoria de Inquéritos nos Tribunais Superiores (Cinq), a área responsável por investigar autoridades, delegado Leopoldo Lacerda, pediu que a Corregedoria-Geral da PF apure uma possível “investigação paralela” sem o aval e conhecimento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta quarta (27), uma decisão da ministra Cármen Lúcia, do Supremo, deu ainda mais corpo à avaliação de integrantes da cúpula de que, nos próximos dias, os atos de Calandrini podem acabar virando elementos contra ele.
Embora a ministra tenha negado um pedido de Leopoldo Lacerda para travar a investigação comandada por Calandrini sobre suposta interferência da direção no caso de Milton Ribeiro, ela afirmou que nenhum dos alvos do delegado têm prerrogativa de foro privilegiado e alegou que não cabe ao STF analisar o pedido, uma vez que o caso em questão não tramita na Corte.
A avaliação da cúpula da PF é a de que, em sua decisão, Cármen Lúcia indica que o caso deve ser direcionado à primeira instância —o que pode acabar dando outro rumo ao processo.
São alvos do indiciamento de Calandrini o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Caio Pellim, número três na hierarquia da corporação, o superintendente da PF de São Paulo, Rodrigo Bartolamei, o delegado Raphael Astini, responsável por cumprir o mandado judicial de prisão, e outros policiais que atuaram no caso.
(Fonte: www.cnnbrasil.com.br)