Psicologia na PF – “Uma instituição em crise”
Artigo da APF Ana Amélia Correia, lotada na SR/PE, com formação em Psicologia.
O artigo construído sobre o tema: “O ESTRESSE NA ATIVIDADE POLICIAL”, enfoca o adoecimento psíquico da categoria policial federal. A partir de pesquisas bibliográficas e também descritivas (esta última feita em local de lotação), busca estudar as possíveis correlações entre o adoecimento do servidor policial e o nível de estresse decorrentes da função.
Já passa da hora de abrirmos mais um front de luta, debruçando atenção na Saúde Mental de nossos policiais. Convido a todos para também direcionarmos esforços e atenção ao ambiente “psicológico” da nossa Polícia Federal.
É gritante a ausência ou precariedade dos serviços de assistência psicossocial condizentes com as exigências do trabalho e dos serviços prestados.
Entendo que se faz necessária intervenção neste âmbito estudado e visualizo como proposta inicial a programação de atividades de caráter preventivo e sócio-educativas que possibilitem e promovam o contato dos servidores consigo mesmo e com os outros dentro da esfera psicossocial do trabalho, buscando assim sensibilizar, humanizar e desmistificar os mesmos acerca do adoecimento psíquico, seus sintomas, causas e consequências.
Não se pode esquecer que o indivíduo é considerado um ser relacional que afeta e é afetado nas trocas e experiências dentro contexto que vivencia.
Distúrbios psíquicos, alcoolismo, depressão entre outros males, são doenças que apresentaram um elevado índice de crescimento neste quadro de servidores no decorrer dos últimos anos. Infelizmente, o suicídio tem sido a solução final para os sofrimentos de alguns policias evidenciando uma urgência em serem desenvolvidos trabalhos de assistência psicológica contínua em nossa instituição.
Repasso abaixo (em recortes), fragmentos da pesquisa:
Do SUICÍDIO
-Com combinação de fatores negativos internos e externos, o suicídio é uma tragédia de difícil explicação para profissionais da saúde e para estudiosos da vida social. O alerta está acionado, a percentagem de morte por suicídio pode ser um indicador sobre o estado de transtornos psíquicos que perpassam a categoria de policiais federais.
Para o sociólogo Émile Durkheim (1897) o suicídio é a expressão mais grave de fracasso de uma comunidade e raramente pode ser explicado por uma razão única. De acordo com a definição de Jacobson (1979, apud FERREIRA-SANTOS, p. 76), um estado contínuo de crise seria provavelmente incompatível com a vida.
-Partindo do pressuposto que uma instituição está bem quando seus membros estão bem, Cautella (1999a apud PALMIERI; CURY, 2007, p.2) afirma que em algum momento da história de uma instituição, se faz necessário instalar um espaço de acolhimento e segurança para seus funcionários.
“Pesquisas em várias partes do mundo vêm enfatizando as implicações do estresse excessivo para a saúde física e mental do ser humano e para sua produtividade. Dados da Associação Internacional de Gerenciamento de Stress (2012) referem que o trabalho policial é considerado uma das profissões mais estressantes, sendo exigida uma elevada capacidade de autocontrole.” Esta aptidão acarreta afetação direta na saúde total do indivíduo.
Conforme Selye (1965), diante de situações de estresse são produzidas deformações na capacidade de respostas da pessoa, as quais atingem o comportamento mental, afetivo, físico e o relacionamento com as pessoas.
À medida que o trabalho contém demandas excessivas ou não tenha recursos adequados para o enfrentamento destas; o indivíduo passa a percebe seu ambiente laboral como ameaçador as suas necessidades de realização pessoal, profissional, de saúde física e mental, trazendo assim, prejuízos na interação entre o trabalhador e o seu ambiente de trabalho.
Por hábitos culturais não é dada devida atenção para os sinais que não aparentam ameaça imediata ao organismo.
De acordo com Limongi (2009) o estresse resulta da reação do organismo a fatores externos desfavoráveis e está associado a sensações de desconforto e, quase sempre é visualizado como algo negativo que ocasiona prejuízo no desempenho global do individuo.
No tocante a atividade laboral, o estresse pode ser visto como uma avaliação que o indivíduo faz das situações de trabalho às quais está exposto e que podem ser mais ou menos desgastantes, ou seja, o que é identificado como uma situação negativa e de difícil enfrentamento no ambiente de trabalho.
Segundo evidencia Lipp (2005) as reações de estresse são necessárias e naturais para a manutenção da vida, entretanto, sob algumas circunstâncias, poderão tornar-se prejudiciais ao funcionamento do indivíduo. Para a autora, “O Estresse Ocupacional é compreendido e caracterizado como aquele em que o ambiente de trabalho é incluído entre as causas desencadeadoras do mesmo.”
Baseando-se em pesquisas anteriores, Nogueira et al. (1997) observou que, sob o olhar das organizações o estresse significa desempenho fraco e eficácia reduzida, tornando-se uma demanda administrativa, uma vez que o estresse afeta diretamente a saúde do sujeito, de onde decorrem custos diretos e indiretos. Outras variáveis também podem sinalizar a presença do estresse dentro de uma instituição e seu respectivo impacto, gerando absenteísmo, ociosidade, impontualidade, relações interpessoais comprometidas e licenças para tratamento de saúde.
No ambiente policial, a pressão é uma característica inerente ao trabalho e a “expressão” do estresse pode ser avaliada como uma fragilidade. Outro ponto que vale ser caracterizado é que Pressão e Estresse não é a mesma coisa. A primeira é o conjunto de exigências postas sobre o indivíduo ou grupo, e o segundo, é a resposta individual a um nível de pressão inadequado.
Para Dejours (1992), a organização do trabalho (divisão do trabalho, conteúdo da tarefa, sistema hierárquico, relações de poder, modalidades de comando, e questões concernentes à responsabilidade) exerce sobre o homem uma ação específica cujo impacto é sobre o aparelho psíquico. A partir deste encontro, emerge um sofrimento de natureza mental que tem início quando a organização busca adaptar o servidor ao seu modelo determinado, onde se é ignorado o sujeito e tudo aquilo que ele traz consigo; sua história individual, desejos, expectativas de futuro e aspirações com relação ao trabalho.
Para França (2009) a categoria policial precisaria ser acompanhada e melhor avaliada no que tange às condições de saúde, principalmente aos aspectos psicossomáticos. Segundo ela, a variável “estresse” possui enorme poder de destruição da capacidade de trabalho dos indivíduos, tanto física como mental.
O trabalho ocupa um lugar fundamental na dinâmica do investimento afetivo das pessoas. Condições favoráveis à livre utilização das habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos trabalhadores têm sido identificadas como importantes requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e saúde, deixando de provocar doenças. Por outro lado, o trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido ou que se constitua em fonte de ameaça à integridade física e/ou psíquica, pode desencadear sofrimento psíquico. A contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental das pessoas dá-se a partir de ampla gama de aspectos; desde fatores pontuais como a exposição a determinado agente tóxico, até a complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura hierárquica organizacional. (DIAS et al, 2001, p. 161).
PANORAMA DE ADOECIMENTO EM PERNAMBUCO
A maior incidência está em dois tipos de transtornos, os de humor (com prevalência da depressão) e os de ansiedade, com prevalência do transtorno do pânico e os de ansiedade generalizada (TAG).
Segundo os dados pesquisados, no período de 2008 a 2013 foram verificadas 166 licenças para tratamento da saúde pelo CID F, que classifica as psicopatologias. No mesmo período, 58 policiais foram acometidos por algum tipo de transtorno psíquico (Cid F); assim divididos nas categorias: 14 Delegados de Polícia Federal, 28 Agentes de Polícia Federal, 10 Escrivães de Polícia Federal, 03 Papiloscopistas Policial Federal, 03 Peritos Criminais.
Embora a categoria de agentes configure maioria, proporcionalmente, o quantitativo de policiais por função exercida demonstra o maior adoecimento nos que exercem a função de Delegados, visto que no período de tempo pesquisado a média de servidores lotados no Estado era de 323 servidores assim distribuídos: 37 Delegados, 190 Agentes, 49 Escrivães, 12 Papiloscopistas e 35 Peritos Criminais.
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