O senador afirma que o PSDB reduzirá os ministérios à metade se chegar à Presidência – e diz que o governo de Dilma é o casamento “do improviso com a ineficiência”
LEOPOLDO MATEUS, ALBERTO BOMBIG, JOÃO GABRIEL DE LIMA E HELIO GUROVITZ
O senador Aécio Neves evita assumir sua pré-candidatura a presidente. Mas já fala como candidato. Faz até promessas de campanha. “Se o PSDB assumir o governo, e eu tiver um papel nesse processo, não teremos no Brasil mais que 22 ministérios”, afirmou ele em entrevista a ÉPOCA, dentro da série Líderes Brasileiros. Com um discurso de tom fortemente oposicionista, várias oitavas acima da tradição tucana, Aécio encorpa a voz contra o PT. “É preciso ter coragem para fazer diferente.” Nem o Bolsa Família, espécie de tábua sagrada da política brasileira nos últimos anos, escapa de sua mira. Para ele, o PT usa o programa para fazer “contabilidade marqueteira”. De A a Z, ele segue à risca o pensamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem tem se mostrado um fervoroso defensor – diferentemente do que fizerem os candidatos a presidente pelo PSDB José Serra (em 2002 e 2010) e Geraldo Alckmin (2006). Ou melhor, de A a Z, com exceção de uma letra: o M, de maconha. Aécio é contra a liberação de drogas leves, bandeira empunhada internacionalmente por FHC. É também contra mudanças na lei do aborto e a favor do casamento gay. Aécio se apresenta como homem de classe média e afirma não usar o transporte público nem o SUS. “Não vou fazer demagogia.”
ÉPOCA – O senhor é candidato a presidente?
Aécio Neves – O PSDB terá candidato. Não é uma opção, é uma obrigação do PSDB. Principalmente devido ao agravamento da situação brasileira. Cumprirei o papel que o partido determinar. Hoje, sou 100% presidente nacional do PSDB. Com uma agenda extensa, que busca uma reconciliação do PSDB com a sociedade brasileira. Em especial com setores que já foram próximos e, ao longo do tempo, por razões diversas, se distanciaram do PSDB. Acredito que temos um projeto melhor que esse que está aí para o Brasil. E quero dividir isso.
ÉPOCA – Existe um desejo? O senhor quer ser candidato?
Aécio – Tenho disposição. E vou ate aí. Seria avançar muito numa decisão que não é individual, é partidária. Vários podem querer. Cada vez mais me sinto na obrigação de cumprir um papel importante nesse processo, e o partido determinará qual será ele.
ÉPOCA – O crescimento econômico tem sido um problema do governo atual. O senhor tem dito que conseguiria fazer o Brasil crescer a 4%, 5%. Quais seriam as medidas concretas para fazer o país crescer nesse ritmo?
Aécio – Temos de partir de uma constatação: o governo da presidente Dilma falhou. Falhou na condução da política econômica, na gestão do país e no aprofundamento dos programas nas áreas sociais. A saúde é trágica, a educação é de péssima qualidade e a criminalidade avança sem respostas objetivas do governo. O resultado da balança comercial é o pior dos últimos 20 anos, o crescimento é pífio, a inflação está retornando. Esse cenário é de extrema preocupação. O governo se acostumou a terceirizar as responsabilidades, a atribuir as crises a fatores externos. Agora, não dá para dizer que os problemas não são causados aqui. A Europa começa a se recuperar, os Estados Unidos começam a se recuperar com maior vigor. Nós, segundo a Cepal, só para falar dos nossos vizinhos, teremos um crescimento maior apenas que a Venezuela – talvez, em solidariedade à Venezuela…
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