Brasileiro é preso suspeito de terrorismo na Ucrânia

Rafael Marques Lusvarghi foi detido em aeroporto perto de Kiev. Ele chegou a ser detido em protesto contra a Copa em 2014 em São Paulo.

O brasileiro Rafael Marques Lusvarghi, de 31 anos, foi preso na quinta-feira (6) no Aeroporto Internacional de Borispol, perto de Kiev, na Ucrânia, informaram órgãos de imprensa do país. Ele foi detido sob suspeita de terrorismo (assista ao vídeo da prisão). Ele está desde setembro de 2014 lutando ao lado de separatistas russos na guerra da Ucrânia.

Lusvarghi ficou conhecido no Brasil após ser detido durante protesto contra a Copa do Mundo, em 12 de junho de 2014. Na ocasião, ele levou tiros de bala de borracha e teve de ser contido por diversos policiais militares, que usaram gás de pimenta em seu rosto. Ele chegou a ficar 45 dias preso, mas a Justiça de São Paulo o absolveu das acusações de incitação ao crime, associação criminosa, resistência, desobediência e porte de material explosivo.

O G1 procurou a família de Lusvarghi nesta sexta (7), mas não foi atendido até a última atualização desta reportagem.

Segundo nota do Serviço de Segurança da Ucrânia, Lusvarghi foi preso no aeroporto quando entrava no país. Ele foi detido por agentes do Serviço de Segurança da Ucrânia e do Serviço de Fronteiras do Estado. Ainda de acordo com a nota, com Lusvarghi foram encontrados passaporte estrangeiro, uma medalha por serviços de combate e e um laptop que tem uma conversa com representantes de grupos terroristas.

Lusvarghi será enquadrado no artigo 258-3 (criação de um grupo terrorista ou organização terrorista) do Código Penal da Ucrânia. Ele chegou a ser ferido em combate.

Perfil Mais velho de quatro irmãos nascidos numa família de origem húngara e de classe média, Rafael é jundiaiense. A mãe professora é separada do pai, empresário em Minas Gerais. Na adolescência, fez curso de técnico de agronomia

eresse pelo assunto, principalmente na história da guerra. “Eu era criança quando ele já era adolescente, então não sei se já dava para perceber que ele poderia virar um combatente, mas o Rafael estudava muito história, geografia e era muito bom em estratégia”, lembra.

O reflexo de seus interesses se deu na vida do combatente. Aos 18, Rafael se alistou na Legião Estrangeira, na França, onde serviu por três anos. Na volta ao Brasil, foi soldado da PM de São Paulo entre 2006 e 2007. Depois tentou a carreira de oficial da PM no Pará, mas abandonou em 2009.

No ano seguinte, ele seguiu para a Rússia para concretizar seu desejo de conhecer, in loco, o que só havia visto em fotos do período comunista. Tentou entrar para o exército russo, mas não conseguiu e voltou à América do Sul. Afirmou ter entrado no território colombiano, onde ingressou nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Descontente, retornou ao Brasil. Começou a dar aulas de inglês e trabalhar numa empresa de informática em Indaiatuba, interior paulista. Ele perdeu os empregos devido às duas prisões que sofreu em atos anti-Copa.

Rafael já planejava ir à Ucrânia antes de ter sido preso em São Paulo. “Tinha uma passagem comprada para lá. O voo partiria em 28 de junho”, disse ele à época. Cinco dias depois, no entanto, foi detido novamente pela polícia suspeito de atos violentos.

Conflitos Desde o início da guerra na Ucrânia, em abril de 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) registrou 9.640 mortos e 22.431 feridos entre membros das Forças Ucranianas, civis e de grupos armados. A Ucrânia e outros países do Ocidente acusam a Rússia de enviar tropas e apoio aos rebeldes, o que o presidente russo, Vladimir Putin, nega.

O grupo de combate comandado por Rafael conta com voluntários estrangeiros: 5 brasileiros, um espanhol, 3 franceses e um norte-americano. Ele faz parte do Exército Regular da República Popular de Donetsk – autoproclamada pelos rebeldes após uma consulta pública à população local que foi considerada ilegítima pelas autoridades em Kiev e pela maioria da comunidade internacional.

É o governo da região que oferece documentação, atendimento médico, alimentação e alojamento. Outros 12 brasileiros já passaram pelo grupo. A principal tarefa do grupo é observar a movimentação do exército ucraniano e reportar ao comando do batalhão.

]]>