Opinião
A violência urbana que estamos vivendo, cada vez mais próxima de todos nós, tem causado um dano na sociedade e nos indivíduos que vai além da própria violência, que é o medo. Hoje temos medo de sair andando, com ou até mesmo sem a carteira. Estamos sempre atentos com o que está acontecendo ao nosso redor e de forma preconceituosa, rotulamos algumas pessoas, com uma aparência um pouco diferente, como, potenciais ladrões. Até quando teremos que viver dessa forma? E o que mais assusta é que os crimes continuam acontecendo, alguns de forma até mais violenta. Fiz uma pequena pesquisa com adultos nesta semana e 100% já tinham sido vítimas de algum tipo de furto ou roubo. Diferenças sociais? Sistema prisional? Uso e tráfico de drogas? Confiança na impunidade? Nossas leis? Acredito que sejam estes alguns dos problemas, talvez hajam outros, mas por que não conseguimos ter uma sociedade mais segura? Estamos até exportando idéias para o crime. Quando estive em Moçambique no ano passado, e conversando com os locais, descobri que após o início da transmissão de um canal de televisão brasileiro, começou a existir o sequestro relâmpago em Maputo, a capital do país. A que ponto estamos chegando! Sabemos que existe uma divisão de responsabilidades entre as polícias que fazem um excelente trabalho, considerando a enorme dificuldade de falta de infraestrutura e salários que recebem, e os níveis de governo. Em Nova Iorque a criminalidade estava em níveis inaceitáveis (para eles), no final dos anos 80, quando Rudolf Giuliani ao assumir a prefeitura declarou guerra ao crime e, retratado por diversos documentários e filmes, reduziu o índice com investimentos na inteligência, tolerância zero ao crime e com muito esforço da sociedade, ao ponto de podermos andar a pé pela cidade tanto durante o dia quanto durante a noite. Embora sejamos um povo pacífico, com as fronteiras terrestres e marítimas definidas e sem questionamentos pelos vizinhos e com facilidade para aceitarmos as diferenças religiosas e raciais, a violência urbana gera mais vítimas do que os países do oriente médio com suas disputas seculares. Diversos condomínios verticais de Tel Aviv, capital de Israel, não têm muros e não são cercados. Andar à noite na região central de Beirute, capital do Líbano, embora assustador para quem imagina ou faz pela primeira vez, não existe perigo, é bastante seguro. Correr no parque central em Taipei, capital de Taiwan à meia noite é comum para os locais. Na minha opinião o pior dano, depois obviamente que a própria violência, que causa essa realidade que vivemos, é ao nosso cérebro que envia esse medo de forma permanente e constante, independentemente de estarmos ou não em uma situação de risco. O Rio de Janeiro declarou guerra em alguns pontos e venceu a disputa, talvez até “”exportando”” para outros pontos do país os marginais. O esforço não pode ser para expulsar o criminoso, e sim para prender e manter preso pelo tempo que a legislação determinar. A polícia já faz bastante uso da tecnologia da informação para desmontar traficantes e prevenir crimes, mas precisa de mais infraestrutura de material e principalmente de pessoas. Um termo usado por urbanistas no mundo, NIMBY (Not In My Back Yard), retrata a dificuldade que o estado tem em encontrar locais para construir novas prisões, afinal quem gostaria de tê-las como vizinhas? Mas é necessário ter estrutura para manter de forma digna os seres humanos, e tentar recuperá-los, o que é possível em inúmeros casos. E o que dizer de nossa legislação que prende quem estiver cortando uma árvore nativa e não prende quem matou uma pessoa? Até quando uma árvore nativa vai ser mais importante que uma vida humana?
Flávio Amary é vice-presidente do Interior do Sindicato da Habitação (Secovi-SP) e escreve às quartas-feiras neste espaço
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