''Nossa luta nos levará à reestruturação da carreira e de nossa tabela salarial''

Nascido em Uruguaiana (RS) o agente federal Marcos Vinício de Souza Wink, 56, está no em seu segundo mandato na presidência da Federação Nacional dos Policiais Federais. Neste período, Wink, como é conhecido Brasil a fora, esteve à frente de paralisações, negociações, debates políticos e outros tantos desafios postos no dia a dia de quem representa 27 sindicatos e mais de 13 mil policiais filiados. Mas nenhum desafio foi tão grande quanto a greve de 2012.

Durante 70 dias escrivães, papiloscopistas e agentes federais realizaram uma greve que entrou para história da Polícia Federal. A primeira grande greve dos federais na era das redes sociais mobilizou o país e colocou na pauta do governo a discussão de um novo modelo para a Polícia Federal.

Marcos Wink, como sempre, estava lá. À frente do movimento, Wink participou das mobilizações coordenou a greve e participou de dezenas de rodadas de negociações com todas as esferas do poder.

Agora, Faltando poucos dias para o fim de 2012 e a três meses de concluir o mandato, o presidente da Fenapef faz um balanço do trabalho realizado até aqui e projeta para o futuro próximo uma mudança estrutural não só na Polícia Federal, mas na segurança pública do país.

Agência Fenapef  – O Senhor está à frente da Fenapef, uma entidade que representa 27 sindicatos e milhares de policiais. A pouco mais de três meses de encerrar seu mandato, qual sua visão sobre a entidade e o que ela representa?

Marcos Wink – Há muito tempo a Federação deixou de ser uma entidade restrita somente à Polícia Federal. Nossa participação na política, nossas lutas pela reestruturação de nossa carreira e a construção de propostas para qualificação do sistema de segurança pública transformaram a Federação em referência para a sociedade.

Na minha avaliação a Federação mostrou a outros grupos de servidores, a outras entidades e ao próprio governo que é possível fazer um sindicalismo que não seja meramente reivindicatório, inaugurando assim um sindicalismo moderno e propositivo.

É lógico que as conquistas que obtivemos, fruto de nossas lutas, são fundamentais, mas sem perder de vista nossa contribuição para a segurança pública, para a política e para o país como um todo.

Fenapef – O Senhor tocou num ponto fundamental: as conquistas para a categoria. Muitas pessoas fazem duras críticas ao trabalho da Federação principalmente no que se relaciona com a pauta de reivindicações da categoria e a defesa de seus interesses. Como o senhor encara essas críticas?

Wink – Eu entendo que a pessoa que não quer ser criticada não pode estar na presidência de uma entidade como a Fenapef, portanto encaro as críticas com normalidade. Agora, é preciso dizer também que nos últimos anos tivemos avanços importantes. Tanto do ponto de vista político, quanto do ponto de vista de nossas reivindicações.

Hoje somos reconhecidos como carreira de nível superior. Conseguimos frear no Congresso Nacional propostas que queriam precarizar nosso regime previdenciário e também a Lei Orgânica da PF que tentou colocar os EPA´s como servidores de segunda linha. Hoje temos na Câmara uma proposta conquistada por nós que cria o adicional de fronteira. Atuamos fortemente no reajuste das diárias para os servidores de um modo geral e em demandas diárias de nossa categoria como plano de saúde, melhores condições de trabalho e o combate ao assédio moral.

Além disso, estamos em meio a um processo de discussão sobre a reestruturação de nossa carreira e da tabela salarial que tenho certeza vai dar ótimos resultados.

Fenapef – Mas era possível ter feito mais?

Wink – É de nossa natureza olhar os fatos fora do processo histórico onde eles se processam. Deste ângulo sempre achamos que podíamos ter feito mais, ter feito melhor ou ter feito diferente. Isso faz parte. Mas, no meu entendimento, o mais importante é que a direção da federação nunca se omitiu diante da luta, nunca deixou de fazer o que era necessário ou o que foi determinado por nosso Conselho de Representantes, nunca se intimidou com ameaças de quem quer que seja e o mais importante, nunca falamos uma coisa para quem nós representamos e fomos fazer outra na calada da noite. Nossa gestão e nossa ação é transparente e é assim que tem que ser.

Fenapef – Dois mil e doze entra para a história como o ano da maior greve dos policiais. Para o senhor que participou de todos os movimentos paredistas da PF, o que diferenciou esta greve das demais?

Wink – Nosso movimento foi maravilhoso, porque integrou o país. A greve na era das redes sociais nos aproximou e mostrou em tempo real tudo que acontecia de norte a sul de leste a oeste deste Brasil. Tivemos cenas lindas, como os colegas carregando o piano em plena Esplanada dos Ministérios, a “tomada” das cataratas em Foz do Iguaçu, o abraço ao Cristo Redentor, o sete de setembro em Porto Alegre, as manifestações em Natal, São Luiz, Recife, Campo Grande Cuiabá, Salvador, Rio Branco, Belo Horizonte e nas demais capitais deste país.

Mas o que contagiou a todos nós, novos e antigões, foi o engajamento dos colegas de delegacias com efetivos reduzidos, muitas vezes submetidos aos desmandos de chefes truculentos. Cruzeiro do Sul, Tabatinga, Santarém, Chuí, Guaíra, Dionísio Cerqueira e outras unidades demostraram mais do que disposição de lutar. Esses colegas demostraram companheirismo e, sobretudo, que os EPA`s são um só corpo independente de onde estejam lotados.

Fenapef – Mas o senhor sofreu críticas em relação à falta de conquistas da categoria a partir da greve.

Wink – Os policiais que participaram de outros movimentos grevistas na PF sabem que a conquista da vitória depende do trabalho e da mobilização. Em todas as greves da Polícia Federal a conquista sempre veio depois de nossos movimentos. Esta não seria diferente.

Tenho a convicção de que este processo nos levará à reestruturação da carreira e de nossa tabela salarial, a partir do reconhecimento de nossas atribuições. Nossa luta está em curso e, portanto, só depende de nós transformá-la em realidade.

Fenapef – Mas na prática o que isso significa.

Wink – Olha isso quer dizer que pela primeira vez na história dessa polícia e do movimento sindical da PF estamos discutindo modelo de polícia e reconhecimento de atribuições. Pela primeira vez conseguimos mostrar ao governo que não queremos as atribuições dos delegados e tão pouco estamos inventando atribuições para os EPA´s, queremos em lei o reconhecimento de nossas atribuições e com isso garantir o papel de protagonistas dentro do DPF,  o que de fato já somos.

Por fim, penso que toda essa discussão está fortalecendo o entendimento de que nossa tabela salarial deve ser alavancada ao patamar de outras carreiras típicas de estado que hoje recebem muito mais do que nós.

Fenapef – O que o senhor projeta para 2013

Wink – Meu mandato vai até março por decisão do Conselho de Representantes. Neste primeiro trimestre penso que temos duas missões. Imprimir toda nossa força no processo de negociação com o Ministério da Justiça e com o Ministério do Planejamento e ampliar a mobilização dos EPA´s. Penso que 2013 será decisivo para a consolidação de nossas propostas e por isso não podemos deixar de atuar deste as primeiras horas deste novo ano em busca da vitória tão sonhada por todos.

Fenapef – Qual sua mensagem para os policiais federais

Wink – Tenho orgulho de ser agente federal, mas tenho mais orgulho ainda de ter tido o privilégio de estar ao lado de meus colegas em 2012 e nos anos em que estive à frente da Fenapef. Queria agradecer a todos. Aos que foram as ruas. Aos que criticaram. Aos que foram os braços, as pernas e o cérebro dessa greve.

E quero que todos, sem distinção, tenham um natal de paz e um 2013 de sonhos realizados.

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